domingo, 16 de outubro de 2016

À senhora que tanto me olhou perante a birra do meu filho

Como é habitual, hoje, domingo, saímos para tomar o pequeno-almoço fora, em família. Tudo correu bem e calmamente até que, no regresso a casa, a pé, passámos por uma loja de produtos chineses que se encontrava aberta.
Mesmo à sua frente o Martim parou. Queria uma ventoinha, a sua predileção. Dei-lhe a mão e pedi-lhe que seguisse o caminho, ao que ele reagiu de forma pouco conveniente, começando a fazer birra  e atirando-se para o chão, fugindo-me da mão. Desde então o olhar da senhora nunca mais nos deixou. Mesmo seguindo o seu percurso, constantemente olhou para trás com um certo ar de reprovação, perante a situação.
Pousei o Guilherme, que na altura ia ao colo, e comecei as minhas tentativas de acalmar o Martim e o levantar para levar até casa, mas sem nunca a conseguir ignorar.
Sabe, nem sempre é fácil lidar com meninos diagnosticados com perturbações do espectro do autismo.  Não é fácil para mim e também não será fácil para ele. É que não é fácil para um menino que foi não-verbal até aos 8 anos, manifestando ainda grande dificuldade em se expressar, gerir a sua frustração de forma convencional, sendo a forma mais comum a birra. Assim como não é fácil para mim ajudá-lo a ultrapassar a situação e a entender o aceitável.
Se há quem pense que é apenas um menino mimado... Quem me dera que fosse só isso! Se há quem pense que é um menino muito mal educado... Infelizmente não o é! É super meigo e delicado. Mas, se quando eles são pequenas tudo pode ser desvalorizado ou considerado até engraçado, a verdade é que, para a generalidade das pessoas, talvez como a senhora, isso já é olhado bem mais de lado quando em questão está uma criança de 10 anos. "Faltaram-lhe umas boas palmadas", pensarão muitos, mas não sou adepta desse tipo de acção, muito menos nesta situação tão atípica.
Perante estas atitudes, felizmente pouco comuns, do meu filho, eu limito-me a manter a calma que lhe quero transmitir, tentantado que se levante e explicando que não se pode comprar tudo o que ser quer, quando se quer. Fazendo-o perceber que o sentimento de frustração também existe e que aquela não é, de todo, a melhor forma de o manifestar. Tentando-o preparar, de todas as formas possíveis, para um futuro muito incerto, que me parte o coração, só de pensar de como será no dia em que não serei a estar cá para o apoiar.
Cumpro certamente o meu papel de mãe, o melhor que sei e posso, mas preferia muito mais desempenhá-lo sem ser o foco de tantos olhares vindos de si.

5 comentários:

  1. Meu filho tb já fez birra na porta dos xineses e tb me olharam como em muitas ocasiões de birra. Cada vez são menos frequentes o meu tem 4 anos, quando voçe diz que acham engraçado enquanto são pequenos não é bem verdade meu filho com 2 anos fazia birras fenomenais o k tb ´´e próprio da idade e eu já levava com essas bocas.

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  2. Eu compreendo mesmo e sei o que sente,....na catequese da minha filhote há um menino que tem autismo.
    Só que quem está do outro lado, não sabe que a criança tem autismo e quando descobrem e sabem, aí entendem e compreendem.
    A calma, a paciência, a força e o amor, ajudam a levar estes momentos com mais serenidade,...mas o futuro só a Deus pertence,...
    Beijinhos e um xi coração bem apertado!
    Espero por ti em:
    strawberrycandymoreira.blogspot.pt
    http://www.facebook.com/omeurefugioculinario

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  3. Porque me lembrei de si e deste post quando vi!!

    https://www.facebook.com/AutismOnTheMighty/videos/1549618835347519/

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  4. Não é fácil mas tenta ignorar! Naquele momento, a tua preocupação é o Martim. As pessoas têm a mania de julgar e sempre terão! o G. tem agora mais de 1,50m com 11 anos. Agora imagina os olhares quando lhe dá uma dessas. Se o sinto seguro, viro-lhe as costas como forma de desaprovação do seu comportamento, o que numas vezes resulta, outras gera ainda mais confusão. Mas julgamentos irão sempre: ora porque não dás uma palmada, ora porque dás (já tive um senhor a ameaçar-me que chamava a policia porque dei uma palmada na Lara, mas ele não sabia que a garota já se estava a passar há mais de meia hora dentro do supermercado por birra e não crise como o caso do G. ou do Martim). Beijos.

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